terça-feira, 25 de outubro de 2011

. O Corpo como Suporte da Arte .


Ao pensar as marcas corporais como uma forma de transcendência, de ultrapassagem dos limites físicos, de fortalecimento do espírito e delineamento do caráter; de dar oportunidade ao psíquico expressar-se concretamente sobre o suporte ao qual está vinculado, de trazer à tona e vivenciar o inconsciente, de materializar o imaterial, como uma forma do indivíduo conectar-se ao universo, nos parece lógico e pertinente que estas sejam feitas exatamente no órgão que delimita esses dois espaços: a pele.
Mais do que delimitar o corpo humano, separando-o de tudo que é externo a ele, a pele estende-se para o interior do corpo por meio de seus orifícios naturais ou dos que lhe foram executados, fazendo a ligação entre a área exposta e a área protegida. É através dela que o organismo capta estímulos externos, elimina toxinas e executa a troca de calor. É sob ela que se encontra o que de mais semelhante existe entre os indivíduos: a composição de seus organismos. Neles, todos os elementos, salvo em casos de anomalias, são similares.
Por baixo da pele esteticamente falando todos os indivíduos são iguais. A pele, intermediária e mediadora de espaços, pode ser comparada aos sonhos, que são mediadores entre o consciente e o inconsciente. O fato de possuir um adorno aplicado sob a pele faz com que a região onde todos somos semelhantes deixe de ser. O indivíduo passa a se diferenciar, não por algo que ele colocou sobre a pele, mas sim por algo que passa a fazer parte de seu corpo, da sua trajetória de vida.
Quando o indivíduo traz para sua vida tais modificações, tais marcas, e, mais do que isso, quando os incorpora fisicamente, estes elementos o remetem de forma inconsciente ao lúdico. Desse modo, ele adquire a sensação desse poder, dessa força, não só por se tornar diferente, por criar uma identidade própria, mas por trazer o caráter d o d i v e r t i m e n t o , d a f a n t a s i a , do c o t i d i a n o , em que o comportamento convencional se baseia na racionalidade, por dar ao inconsciente um espaço real, visível e palpável.
texto: Beatriz Ferreira Pires
Fotografia Cris Jacob

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